Entre
a Rio 92 e a Rio+20 muito se falou e pouco se realizou nas altas esferas
governamentais em favor do meio ambiente. Daquela vez como agora se cogitou a
criação de instâncias de governança global e de fundos para a conversão da
economia convencional em economia de baixo carbono, mas quase nada foi feito.
Daí a sensação de fracasso que ficou, para muitos, das cúpulas mundiais. Tive,
entretanto, a oportunidade de observar um pouco mais de perto o que aconteceu
nesses 20 anos no setor produtivo, e aí se pode afirmar que houve avanços
consistentes. Este ano escrevi um livro sobre os 20 anos do Prêmio Expressão de
Ecologia, uma premiação voltada a empresas (também há categorias para ONGs e
setor público) da região Sul do Brasil criada pela Editora Expressão, de Florianópolis,
logo após a Rio 92.
O
prêmio conseguiu captar a cada ano o estágio ambiental das empresas, e assim
acabou registrando o seu desenvolvimento no período. Essa trajetória está
contada no livro, tendo como pano de fundo a evolução da consciência ambiental,
o endurecimento da legislação e as mudanças na economia que exigiram uma
reestruturação produtiva das empresas nos anos 90. Tudo temperado com histórias
como as dos ambientalistas gaúchos José Lutzemberger e Magda Renner, que
conseguiram alterar projetos de grandes indústrias ainda nos anos 70 e 80,
tornando-as ambientalmente corretas.
Mesmo
assim, no início dos anos 90 o quadro era desolador. As principais bacias
hidrográficas eram contaminadas pela poluição industrial. Em Santa Catarina, no
Vale do Itajaí, um pólo têxtil, as indústrias lançavam aos rios, sem
tratamento, corantes e outros químicos. Em Joinville o problema eram os metais
pesados no rio Cachoeira, que corta a cidade. No oeste, área de produção de
alimentos, lançavam-se aos rios óleos, gorduras, graxas e restos de animais. As
indústrias de celulose expeliam o licor negro, um rejeito de soda cáustica que
matava tudo o que estivesse por perto. Essa poluição industrial grosseira
acabou em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul no início dos anos 90, graças a
programas governamentais de despoluição das bacias hidrográficas que exigiram o
controle das indústrias.
Desde
então as principais empresas incorporaram a componente ambiental em seus
processos. Descobriram que produzir mais com menos era lucrativo, pois usavam
menos matérias-primas e tinham menos resíduos para tratar. Uma empresa reduziu
pela metade o volume total de resíduos e passou a reciclar 97% dos resíduos
sólidos. Outra aumentou a produção em 60% mas diminuiu o consumo de água em 17%.
Todas ganharam eficiência energética. Na agricultura, além da adoção de
práticas conservacionistas, o “milagre” foi aumentar a produção sem avançar
sobre novas áreas (no Sul praticamente não há mais áreas de expansão
disponíveis). Em 20 anos a produção de grãos dobrou sobre os mesmos 17 milhões
de hectares. Todas essas ações permitiram a obtenção de maior produtividade dos
recursos naturais, uma das chaves da almejada sustentabilidade.
As
ações foram além do controle de emissões e revisão dos processos produtivos.
Várias empresas regularizaram seus passivos com projetos de recuperação de
áreas degradadas e passaram o exigir o mesmo de fornecedores. Outras investiram
na conservação de florestas com a aquisição e manutenção de reservas
particulares. Centenas firmaram parcerias com escolas, ONGs e instituições
públicas em projetos de educação ambiental. As mais arrojadas investiram em
inovação para obter novos processos e produtos. Nenhuma companhia encontrou a
fórmula definitiva da sustentabilidade, nem o universo contemplado pelo Prêmio
representa a totalidade da região. Mas o conjunto de ações permite supor que o
setor produtivo tem tudo para liderar o processo de edificação da almejada
economia verde.
(Vladimir Brandão,
jornalista e autor de “O livro verde do Sul”)
Foto:
Parque Estadual do Rio Canoas, de 1.200 hectares, em Santa Catarina, criado
após a doação da área pela Enercan, que opera uma usina hidrelétrica na região
/ Crédito: Edson Junkes
Aluna: Izadora Serafini, 2ª série do Ensino Médio.
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