domingo, 30 de junho de 2013

Como as empresas do sul ficaram mais verdes

Entre a Rio 92 e a Rio+20 muito se falou e pouco se realizou nas altas esferas governamentais em favor do meio ambiente. Daquela vez como agora se cogitou a criação de instâncias de governança global e de fundos para a conversão da economia convencional em economia de baixo carbono, mas quase nada foi feito. Daí a sensação de fracasso que ficou, para muitos, das cúpulas mundiais. Tive, entretanto, a oportunidade de observar um pouco mais de perto o que aconteceu nesses 20 anos no setor produtivo, e aí se pode afirmar que houve avanços consistentes. Este ano escrevi um livro sobre os 20 anos do Prêmio Expressão de Ecologia, uma premiação voltada a empresas (também há categorias para ONGs e setor público) da região Sul do Brasil criada pela Editora Expressão, de Florianópolis, logo após a Rio 92.
O prêmio conseguiu captar a cada ano o estágio ambiental das empresas, e assim acabou registrando o seu desenvolvimento no período. Essa trajetória está contada no livro, tendo como pano de fundo a evolução da consciência ambiental, o endurecimento da legislação e as mudanças na economia que exigiram uma reestruturação produtiva das empresas nos anos 90. Tudo temperado com histórias como as dos ambientalistas gaúchos José Lutzemberger e Magda Renner, que conseguiram alterar projetos de grandes indústrias ainda nos anos 70 e 80, tornando-as ambientalmente corretas.


Mesmo assim, no início dos anos 90 o quadro era desolador. As principais bacias hidrográficas eram contaminadas pela poluição industrial. Em Santa Catarina, no Vale do Itajaí, um pólo têxtil, as indústrias lançavam aos rios, sem tratamento, corantes e outros químicos. Em Joinville o problema eram os metais pesados no rio Cachoeira, que corta a cidade. No oeste, área de produção de alimentos, lançavam-se aos rios óleos, gorduras, graxas e restos de animais. As indústrias de celulose expeliam o licor negro, um rejeito de soda cáustica que matava tudo o que estivesse por perto. Essa poluição industrial grosseira acabou em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul no início dos anos 90, graças a programas governamentais de despoluição das bacias hidrográficas que exigiram o controle das indústrias.

Desde então as principais empresas incorporaram a componente ambiental em seus processos. Descobriram que produzir mais com menos era lucrativo, pois usavam menos matérias-primas e tinham menos resíduos para tratar. Uma empresa reduziu pela metade o volume total de resíduos e passou a reciclar 97% dos resíduos sólidos. Outra aumentou a produção em 60% mas diminuiu o consumo de água em 17%. Todas ganharam eficiência energética. Na agricultura, além da adoção de práticas conservacionistas, o “milagre” foi aumentar a produção sem avançar sobre novas áreas (no Sul praticamente não há mais áreas de expansão disponíveis). Em 20 anos a produção de grãos dobrou sobre os mesmos 17 milhões de hectares. Todas essas ações permitiram a obtenção de maior produtividade dos recursos naturais, uma das chaves da almejada sustentabilidade.
As ações foram além do controle de emissões e revisão dos processos produtivos. Várias empresas regularizaram seus passivos com projetos de recuperação de áreas degradadas e passaram o exigir o mesmo de fornecedores. Outras investiram na conservação de florestas com a aquisição e manutenção de reservas particulares. Centenas firmaram parcerias com escolas, ONGs e instituições públicas em projetos de educação ambiental. As mais arrojadas investiram em inovação para obter novos processos e produtos. Nenhuma companhia encontrou a fórmula definitiva da sustentabilidade, nem o universo contemplado pelo Prêmio representa a totalidade da região. Mas o conjunto de ações permite supor que o setor produtivo tem tudo para liderar o processo de edificação da almejada economia verde.

(Vladimir Brandão, jornalista e autor de “O livro verde do Sul”)

Foto: Parque Estadual do Rio Canoas, de 1.200 hectares, em Santa Catarina, criado após a doação da área pela Enercan, que opera uma usina hidrelétrica na região / Crédito: Edson Junkes


Aluna: Izadora Serafini, 2ª série do Ensino Médio.

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