Pesquisadores
da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) têm em mãos um projeto
que promete revolucionar o mercado mundial de cimento. Eles criaram uma versão
ecológica do produto, que permite dobrar a fabricação sem que seja necessário
construir novos fornos e, conseqüentemente, sem aumentar a emissão do CO2,
um dos principais vilões no efeito estufa.
Segundo o professor Vanderley
John, um dos responsáveis pelo projeto, O cimento Portland tradicional é
composto basicamente por argila e calcário, substâncias que, quando fundidas em
um forno sob altas temperaturas, transformam-se em pequenas bolotas chamadas
clínquer.
Esses grãos de clínquer são
moídos com o mineral gipsita até virarem pó. “Estima-se que para cada tonelada
de clínquer são emitidos entre 800 e 1.000 quilos de CO2, incluindo o CO2
gerado pela decomposição do calcário e pela queima do combustível fóssil (de 60
a 130 quilos por tonelada de clínquer)”.
A nova
tecnologia consiste basicamente em aumentar a proporção de carga (filler)
na fórmula do cimento Portland, adicionando dispersantes orgânicos que afastam
as partículas do material e possibilitam menor uso de água na mistura com o
clínquer.
A carga é uma matéria-prima à
base de pó de calcário que dispensa tratamento técnico (calcinação), processo
que, na fabricação do cimento, é responsável por mais de 80% do consumo
energético e 90% das emissões de CO2.
A fórmula para calcular a
quantidade de carga no cimento é usada desde 1970, estabelecendo que a
quantidade do material de preenchimento não poderia ser alta porque havia o
risco de comprometer a qualidade do produto.
Os pesquisadores brasileiros
descobriram que isto não é verdade.
“Em
laboratório, foi possível chegar a teores de 70% de filler, sendo que atualmente ele
está entre 10% e 30%”, afirma John. “Com isso será possível dobrar a produção
mundial de cimento sem construir mais fornos e, portanto, sem aumentar as
emissões”.
A solução veio da matemática,
mais especificamente de estudos que, muitas vezes, parecem teorias sem qualquer
ligação com a praticidade do mundo industrial.
Atualmente,
a indústria do cimento é responsável por 5% de emissão de CO2 em todo o planeta. Se todas as previsões estiverem corretas, a produção de cimento
deve dobrar nos próximos 40 anos (impulsionada pelos países em
desenvolvimento), o que faz com que a emissão da indústria salte para
impressionantes 20%.
A Escola Politécnica da USP já
está negociando parcerias com as indústrias cimenteiras para aperfeiçoar e
transferir a nova técnica
Por: Bianca Mathias, 1ª série do E.M.
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